quinta-feira, 3 de novembro de 2011


03/11/2011 16h57 - Atualizado em 03/11/2011 16h57

Alemanha quer ter energia limpa 




equivalente a 14 vezes Belo Monte


Governo alemão vai substituir energia atômica pela solar e de biomassa.
Cidadãos podem vender energia produzida nas residências.

Eduardo CarvalhoDo Globo Natureza, em Stuttgart - o repórter viajou a convite do governo de Baden-Württemberg
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A decisão do governo da Alemanha de encerrar a geração de energia proveniente de usinas nucleares e diminuir a quantidade de complexos movidos a carvão, responsáveis por altas emissões de carbono, vai aumentar o emprego das energias renováveis no país, como a solar, eólica e biomassa, que saltarão dos atuais 16% de toda a matriz energética para 80% até 2050, segundo o plano oficial. A potência instalada de fontes renováveis deverá chegar a 163,3 GW.
É como se em quatro décadas a Alemanha construísse o equivalente a mais de 14 usinas com a mesma potência da de Belo Monte, que terá capacidade para produzir 11,2 GWh de energia no Rio Xingu, no Pará.
Entretanto, a falta de espaço territorial na nação mais desenvolvida da Europa (cabem quase 24 Alemanhas dentro do território do Brasil) não permite tal feito e incentiva a criatividade e o desenvolvimento tecnológico.
O assunto se tornou uma das principais bandeiras do país desde o final de maio, quando o governo de Angela Merkel anunciou o encerramento gradativo das atividades de 17 usinas nucleares até 2022. O tema já era discutido há pelo menos uma década, mas a decisão a respeito foi acelerada após o acidente nuclear ocorrido em Fukushima, no Japão.
Com isso, nos próximos anos, a tecnologia nuclear deixará de produzir 23% da energia elétrica utilizada para abastecimento da indústria e das moradias dos seus 81,7 milhões de habitantes.
energias (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)À esquerda, exemplos de turbinas de energia eólica que funcionam em regiões da Alemanha; à direita, casas sustentáveis que são abastecidas com luz solar em bairro de Freiburg. Plano da Alemanha é aumentar para 80% da matriz energética até 2050 o uso de tecnologias limpas (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)
Iniciativa
Para substituir a perda, o governo criou um plano determinando que 80% da matriz energética do país seja abastecida por meios renováveis até 2050 e, ao mesmo tempo, criou regras para a reduzir o consumo do país com a aplicação de melhorias na eficiência energética.
Tais tecnologias, que emitem menos gases causadores do efeito estufa, são recomendadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), no intuito de reduzir as emissões de carbono proveniente de usinas de carvão.
Segundo dados da Associação Alemã das Indústrias de Água e Energia (BDEW), até 2010 as energias renováveis provenientes do vento, da reutilização de materiais (biomassa), da água e do sol eram responsáveis por 16% da geração de energia elétrica no país.
O aumento deve ocorrer de forma gradativa com a ajuda de regras como a que determina a implantação de placas solares em residências novas para que a luz solar gere 15% do aquecimento interno da casa, além da água quente consumida.
"Estamos abandonando a energia atômica em todo o país, mas estamos implantando um sistema que denominamos de 'tarifa ecológica', que recompensa pessoas que estão consumindo sua própria energia com meios limpos. O excedente alimenta a rede elétrica, sendo descontado do custo que a pessoa teria que pagar pelo consumo ou mesmo recebendo a quantia em dinheiro ao longo dos anos", explica a pesquisadora Ursula Eicker, da Universidade de Ciências Aplicadas de Stuttgart.
  (Foto:  )
Desenvolvimento
O aproveitamento desses recursos tornou-se prioridade para empresas, instituições de pesquisa e governos estaduais, como o de Baden-Württemberg, no sudoeste alemão.
Com uma população de 11 milhões de habitantes e alta concentração de indústrias – abriga as sedes mundiais de companhias como a Daimler (Mercedes-Benz), Porsche, Bosch, entre outras -, 40% da energia que abastece a região provém da matriz nuclear, segundo Theresia Bauer, ministra de Ciência, Pesquisa e Arte de Baden-Württemberg.
Por conta disso, há um movimento de desenvolvimento de novos produtos voltados à melhoria da eficiência energética que serão utilizados no país e, posteriormente, exportados para outras regiões, como o Brasil.
“Queremos ocupar uma posição de liderança neste contexto, desenvolvendo tecnologias em relação à energia eólica, fotovoltaica e biomassa”, disse a ministra.
De acordo com Theresia, instituições de pesquisa instaladas no estado, e que contam com robustos orçamentos anuais que estão em torno de 1 bilhão de euros, trabalham para desenvolver novos materiais para melhorar o aproveitamento da luz solar na geração de luz elétrica ou aquecimento de residências, com o intuito de baratear essa tecnologia, além de pesquisar formas de construção mais leves para imóveis ou veículos e na criação de produtos e técnicas voltadas para a energia eólica e biomassa.
Entretanto, a ministra ressalta que estudos voltados para o armazenamento destas energias são os que recebem maior atenção. “Acreditamos que esta é uma questão central para o uso de energias renováveis na produção de energia elétrica, justamente devido à falta de continuidade na geração quando não há raios solares suficientes ou ventos para movimentar as turbinas. Uma grande parte dos investimentos está voltada para esta área”, afirma.
Therezia Bauer (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)A ministra de Baden-Württemberg,
Therezia Bauer (Foto: Eduardo
Carvalho/Globo Natureza)
Energia nuclear no Brasil
Os planos da Alemanha de eliminar a energia atômica de seu país também poderiam respingar no Brasil?
A empresa estatal Eletronuclear e a companhia alemã Siemens são responsáveis por construir o complexo nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, previsto para ser finalizado até 2015 e que custará R$ 6,1 bilhões.
O Ministério de Minas e Energia do Brasil pretende ainda implantar quatro novos complexos atômicos, sendo dois no Nordeste e mais dois no Sudeste.
A obra no litoral fluminense é criticada por ambientalistas brasileiros e alemães, mas, segundo a ministra de Baden-Württemberg, o contrato firmado entre a Siemens e o governo do Brasil será honrado.
“Nossos contratos serão cumpridos. Agora, o que é errado é abandonarmos a energia atômica no nosso país e continuar com sua exportação para outras regiões. Se acreditamos que não é uma tecnologia sustentável, a tendência é que essa exportação não seja continuada”, diz Theresia Bauer.
Ela complementa ainda que os aspectos de segurança e de tratamento de resíduos ainda serão temas pesquisados e discutidos na Alemanha por muito tempo. “Vamos lidar com os aspectos de segurança deste tema por muito tempo, além da situação dos depósitos de resíduos. Essas questões são importantes para a nossa sociedade”, disse.
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ETH Bioenergia inaugura usina de R$ 1 bilhão em Costa Rica (MS)

Unidade tem capacidade para processar 3,8 milhões de toneladas de cana por safra

por Viviane Taguchi, de Costa Rica (MS)
 Shutterstock
ETH Bioenergia, braço sucroenergético do Grupo Odebrecht, inaugurou na manhã desta quinta-feira (3/11) a oitava unidade de produção de etanol e bioenergia da companhia, no município de Costa Rica, interior de Mato Grosso do Sul. O investimento total é de R$ 1 bilhão nas áreas agrícola e industrial. 

De acordo com José Carlos Grubisich, CEO da companhia, a nova unidade terá capacidade para processar 3,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra e gerar 380 gigawatts (GWh) de energia elétrica a partir do bagaço de biomassa. "Queremos e vamos ser líderes na produção de etanol no mundo. Esta é a nossa meta para os próximos anos", afirmou o executivo. 

A unidade Costa Rica é o penúltimo investimento do grupo na região Centro-Oeste e faz parte de um plano traçado há quatro anos pela diretoria da Odebrecht no setor sucroenergético. Ainda este ano, a companhia vai inaugurar a unidade Água Emendada, em Goiás. 
Canaviais 
Segundo o presidente da companhia, a ETH priorizou, nos últimos três anos, a área de canaviais próprios. Ao todo, o grupo já possui 350 mil hectares de plantios de cana. "Com a unidade Costa Rica, soma-se a este número mais 110 mil hectares e, para a próxima safra, ampliaremos nossas lavouras em mais 120 mil hectares, em Goiás", afirmou. "A ETH vai encerrar a próxima safra de cana-de-açúcar com 550 mil hectares de canaviais próprios e, posteriormente, incentivaremos nossos parceiros produtores, de quem também compramos a matéria-prima". 

Sobre tornar-se líder em produção de etanol (atualmente, o primeiro lugar é da Raízen-Cosan), a ETH vai, a partir de 2012, iniciar um plano de internacionalização da companhia. Grubisich afirmou que a empresa tem intenções de implantar unidades industriais na África (Angola e Moçambique), América do Sul (Colômbia) e na América Central (México). "Estamos mapeando as oportunidades", disse o executivo. Estas unidades, segundo ele, serão focadas no mercado norte-americano e no desenvolvimento de "químicas verdes". 
Política de incentivo

Para o senador Delcídio Amaral, que também participou da cerimônia de inauguração da unidade Costa Rica ao lado do governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, o setor sucroenergético brasileiro precisa de organização. Ele citou como pontos principais o desatrelamento do preço do etanol ao da gasolina, novas regras para os leilões de energia elétrica e a isenção tributária para o setor. "O etanol é a nossa maior riqueza, mas precisamos incentivar novos investimentos, montar uma pauta coerente", explicou. 

O governador André Puccinelli afirmou que, no que depender de seus esforços, o etanol brasileiro será o combustível do futuro. "Só aqui no Mato Grosso do Sul nós já temos 24 usinas e precisamos de mais duas. No que depender deste governo, daremos todo o incentivo para novos investimentos. Aqui no meu estado, as licenças não encalham", disse o governador. "Se queremos ser empreendedores, precisamos ter o olhar do empreendedorismo e aqui nós fazemos isso com muita responsabilidade ao meio ambiente".